Como os diretores indicados ao Oscar escolheram os gêneros favoritos da Academia?
Em Hollywood, é mais fácil vender um filme se você puder dizer: “É como uma nova visão de ___” e preencher o espaço em branco com um sucesso de bilheteria. Mas os filmes indicados a diretor geralmente são o resultado de uma visão singular, difícil de definir e categorizar. Ainda assim, pode-se traçar as raízes do gênero dos indicados a diretor deste ano (via Variety).
“Belfast”, Kenneth Branagh
Um aclamado diretor britânico, que ganhou sua primeira indicação ao Oscar por um filme repleto de sequências de ação e citações memoráveis, ganha outra por uma história autobiográfica íntima sobre uma infância em que a violência crescente lança uma sombra. “Belfast”? Claro! Mas também John Boorman em “Amargo Pesadelo” e “Esperança e Glória”.
Alguns diretores ganharam indicações por focarem em crianças pré-adolescentes (“Indomável Sonhadora”, “A Invenção de Hugo Cabret”). Mas, apesar de “Esperança e Glória” ser ambientado em Londres durante a Segunda Guerra Mundial, e não na Irlanda uma geração depois, ele ainda mantém a ligação mais forte em tom e assunto para o último de Branagh.
“Drive My Car”, Ryûsuke Hamaguchi
Muitos especialistas rotularam “Drive My Car” como uma surpresa na categoria, pois é um filme em língua estrangeira. Não deveria ter sido um choque: Alfonso Cuarón (“Roma”) e Bong Joon Ho (“Parasita”) ganharam recentemente o Oscar.
A surpresa maior pode ser encontrada no tom do filme. O protagonista de “Drive My Car” é um diretor, e Hollywood adora filmes sobre teatro ou cinema, mas em tom mais leve como “O Artista”, “Shakespeare Apaixonado” ou o mais chamativo “All That Jazz - O Show Deve Continuar”. O Oscar certamente homenageia assuntos sombrios e romances trágicos, mas filmes pesados sobre luto e perda são raros na categoria de diretor. “Laços de Ternura” e “Os Descendentes” são tristes, mas talvez divertidos demais para serem parentes, então há apenas dois filmes indicados que compartilham material genético óbvio: “Gente como a Gente” e “Manchester à Beira-Mar”.
"Licorice Pizza”, Paul Thomas Anderson
Recentemente, houve um ressurgimento de filmes sobre amadurecimento, com o Oscar reconhecendo “Juno”, “Boyhood: Da Infância à Juventude”, “Moonlight: Sob a Luz do Luar” e “Lady Bird: A Hora de Voar” na categoria de direção – todos trazendo diversidade no estilo de filmagem ou assunto. “Licorice Pizza” em última análise, parece um retrocesso para a época em que o gênero girava em torno das dores crescentes de homens brancos heterossexuais.
Mas os filmes de amadurecimento atingiram a maioridade, em termos de Oscar, no final dos anos 60 e início dos anos 70, com “A Primeira Noite de um Homem” ganhando o prêmio de diretor e as indicações indo para “A Última Sessão de Cinema” e “Loucuras de Verão”. Aliás, “A Primeira Noite de um Homem” se passa a menos de meia hora do cenário do filme de Anderson, já "Loucuras de Verão” foi lançado em 1973, mesmo ano em que “Licorice Pizza” imortaliza.
“The Power of The Dog (Ataque dos Cães)”, Jane Campion
Por décadas, o faroeste foi onipresente nas telas de cinema, mas sub-representado na noite do Oscar. "Matar ou Morrer", "Os Brutos Também Amam" e "Assim Caminha a Humanidade" receberam indicações de diretor, mas apenas o último venceu, enquanto favoritos como "Rio Vermelho" ou "Onde Começa o Inferno" ficaram de fora. Mas quando os diretores modernos começaram a reviver e subverter o faroeste, o Oscar mudou sua postura, homenageando “Dança com Lobos”, “Os Imperdoáveis”, “O Regresso” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”.
O filme de Campion talvez tenha a maior semelhança com o vencedor do Oscar "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee, explorando a trágica supressão de identidade. O taiwanês Lee, como a neozelandesa Campion, também trouxe uma perspectiva de fora para o oeste americano. Mas também há ecos de “Sangue Negro”, com sua dissecação do ego masculino furioso, mas frágil. Phil de Benedict Cumberbatch, no entanto, não bebe da mesma fonte.
“West Side Story (Amor, Sublime Amor)”, Steven Spielberg
O Oscar raramente reconheceu musicais de diretores nos últimos 40 anos – as exceções foram “Chicago” e “La La Land: Cantando Estações” – então vamos voltar à era de ouro. A partir de 1957, Oscar foi recorrente em premiar diretores musicais: nove em 16 anos receberam indicações, incluindo “Mary Poppins”, “A Noviça Rebelde” e o original “Amor, Sublime Amor" de Robert Wise e Jerome Robbins.
A indicação de Spielberg deve muito ao original, claro, desde as canções clássicas até a presença de Rita Moreno. Mas ele rompe com o passado ao criar dinâmicas raciais e de gênero mais sutis e ao incluir cenas em espanhol sem legendas em inglês.
A premiação do Oscar 2022 acontecerá domingo, dia 27 de março.
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