Fogaréu | Flávia Neves fala sobre seu primeiro filme, que teve estreia mundial no Festival de Berlim
Em seu longa de estreia, “Fogaréu”, a diretora Flávia Neves entrelaça o impacto mais amplo do colonialismo no Brasil com uma história focada nos acontecimentos insidiosos em Goiás, sua cidade natal (via Variety).
Tendo obtido o apoio do ACNC’s, Aide Aux Cinemas du Monde, “Fogaréu” é o primeiro filme a oferecer uma crítica sutil à dinâmica de poder dentro de um quadro de suspense cinematográfico arrojado. A produção foi exibida nas telas da seção Panorama do Festival de Cinema de Berlim.
Batizado com o nome da Procissão Católica do Fogaréu na Páscoa, tradição introduzida pelos espanhóis em meados do século XVIII que reencena a prisão de Jesus, o filme acompanha o retorno a Goiás da filha pródiga Fernanda (Bárbara Colen), que viveu em ambientes mais progressistas e liberais desde que partiu com a mãe adotiva. De volta à cidade, ela descobre seu segredo aberto – que muitas crianças neurodiversas colocadas para adoção foram acolhidas por famílias ricas para serem usadas como empregadas domésticas – e mais verdades ocultas sobre seu próprio passado e história familiar.
É uma narrativa ainda mais chocante por suas origens na vida real. Apesar de ser goiana, a prática não era algo que Neves conhecia até estudar cinema no Rio, onde um professor lhe perguntou sobre isso. A cineasta afirma:
Ele me instigou a contar a história. Ficou na minha cabeça e resolvi voltar para Goiás para mergulhar nessa narrativa. Quando comecei a lançar o projeto, as pessoas não acreditavam ser baseado em uma história real. Elas questionavam por que eles não fugiram desses ambientes quando tiveram a chance. Para mim, também foi importante ajudar a cidade de onde venho à medida que os negócios agrícolas crescem e devastam o ambiente natural. É muito importante que as pessoas entendam a história da colonização e como as famílias ricas controlaram essas áreas.
Com toques de filmes estilo noir misturado com elementos folclóricos e de fantasia, “Fogaréu” se destaca como uma adição criativa e emocionante à programação Panorama. Antecipando seu próximo projeto, Neves explica que voltará seu foco mais para as questões ambientais em uma ficção científica pós-apocalíptica sobre o desmatamento em Goiás, refletindo sobre o impacto do apoio do presidente Bolsonaro ao “agronegócio” e a devastação que isso traz para muitas regiões do Brasil.
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